“É importante que as pessoas saibam também que isso é um acidente que todos estão sujeitos a passar. [Precisamos] orientar a sociedade para tomar medidas de prevenção junto a colégios e creches”, afirma a pesquisadora 
O Ciência sem Fronteiras, programa lançado pelo Governo Federal em 2011 e agora encerrado, possibilitou o desenvolvimento de pesquisas internacionais por parte de alunos brasileiros. 

Um exemplo é a da aluna Driely Costa, graduanda de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que procurou entender os casos de morte infantil por esquecimento de crianças em carros. Além de reconhecimento acadêmico, seu estudo gerou uma página em português com informações que visam prevenir a ocorrência desse tipo de acidente.

Driely obteve, em 2014, uma das 721 bolsas oferecidas a alunos da UFJF no período em que o Ciência sem Fronteiras permaneceu ativo. 

Para ela, a oportunidade de ir para a cidade de Athens, no estado norte-americano da Georgia, foi única. 

A estudante pôde estudar a língua inglesa por seis meses e, posteriormente, produzir junto aos professores estrangeiros. “O programa não é só uma experiência acadêmica e profissional, mas é também uma oportunidade pessoal. Foi à oportunidade da minha vida.”

A pesquisa 
No intercâmbio de um ano e quatro meses, Driely desenvolveu uma pesquisa baseada em um problema mundial: os casos de crianças que vêm a óbito esquecidas em carros. Junto ao professor Andrew Grudstein, que já possui experiência no mesmo campo de pesquisa nos Estados Unidos (EUA), a estudante analisou o caso brasileiro.

Devido à falta de dados específicos por parte de órgãos públicos brasileiros, Driely e Grudstein escolheram utilizar como meio de pesquisa as notícias veiculadas em jornais. 

“Os dados mais próximos que eu consegui foram os do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) mas, na hora de pesquisar os filtros, todas as mortes relacionadas a veículos eram contabilizadas junto, o que nos fez perceber que precisaríamos utilizar o mesmo método das primeiras pesquisas americanas, a análise de jornais”, explica Driely.

A pesquisa nos jornais identificou 45 casos de crianças esquecidas em veículos e 24 mortes por insolação entre 2006 e 2016. Tendo como líder em ocorrências a cidade de São Paulo (16), seguido de Minas Gerais (8) e Rio de Janeiro (5). 

Os dados dos casos que levaram a criança a óbito permitiu concluir que o fator climático não é o maior influente, mas sim o estilo de vida, pois em regiões como o Nordeste, onde a temperatura é bem elevada, acontecem poucas ocorrências; já no Sudeste, onde a temperatura é mais amena, existe a maior concentração de casos.

Além de reconhecimento acadêmico, a pesquisa gerou uma página em português com informações que visam prevenir a ocorrência deste tipo de acidente
Conscientização
O estudo possibilitou traçar um perfil de como os casos costumam acontecer. “Os esquecimentos geralmente acontecem durante a semana e quando há uma mudança de rotina na vida dos pais”, afirma Driely. 

“Outro fator importante é a relação dos esquecimentos com as creches e escolas, pois em grande parte das vezes os pais estão levando as crianças para esses lugares”. Visando divulgar e diminuir as ocorrências, a aluna desenvolveu com o professor, junto ao site americano, uma página em português.

Reconhecimento internacional
A pesquisa gerou um artigo que foi publicado em maio na International Journal of Environmental Research and Public Health (Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública). No entanto, Driely permanece pesquisando o tema com a orientação de Grudstein a distância. 

“A nossa preocupação agora é com a compilação do artigo em algo mais didático. O nosso foco é divulgar para que esses casos parem de acontecer. Só nos EUA já tiveram cinco casos esse ano, enquanto no Brasil não há ocorrências. No entanto, eu estou em busca de dados oficiais para continuar a pesquisa.”

Driely esclarece que “é importante que as pessoas saibam também que isso é um acidente a que todos estão sujeitos a passar, por isso é preciso cuidado. Não podemos culpar os pais, mas sim orientar a sociedade para tomar medidas de prevenção junto a colégios e creches”.

da assessoria UFJF