Polícia Militar observa manifestação na antiga Reitoria, no Centro
“Sofri muitas agressões, fui inquirida, tiraram minha roupa, ameaçaram dar choque nos seios, na vagina”. O relato da ex-aluna de Serviço Social Marilda Villela Iamamoto é uma mostra da repressão sofrida por aqueles que se opuseram à Ditadura Militar (1964-1985), no Brasil.

No dia 31 de março, em que se completaram 53 anos da partida de tropas juiz-foranas rumo ao Rio de Janeiro para depor o presidente João Goulart e iniciar o regime militar, o Portal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) selecionou cinco depoimentos de ex-alunos que lutaram em favor da democracia. Os relatos integram uma série de casos investigados pela Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora.

Marilda Villela Iamamoto
Ex-aluna de Serviço Social, Marilda Iamamoto foi presa e torturada em Belo Horizonte 


Marilda começou sua militância quando cursava Serviço Social na UFJF. Entre 1967 a 1971, atuou no movimento Juventude Universitária Católica, participou do Diretório Acadêmico da faculdade e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Vinculada ao movimento Ação Popular, Marilda ajudou a organizar “pequenos comícios” em ônibus e espaços públicos juiz-foranos, denunciando prisões efetuadas pelo regime. Após se formar, enquanto trabalhava como assistente social do INSS em Belo Horizonte, ficou detida por 62 dias no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, o temido Doi-Codi. Nos dois primeiros dias de prisão, ficou sem dormir, passou mais de 24 horas sem água e comida. No terceiro dia, começaram as torturas físicas, e a psicológica se intensificou.

Tapas, socos nos ouvidos, choques nas mãos e ameaças eram constantes. “Sofri agressões do ponto de vista da minha pessoa como mulher”, relatou. Após esse período no Doi-Codi de Belo Horizonte, Marilda foi julgada e condenada a seis meses de prisão. “Encontraram no meu apartamento o livro “A Sociologia de Marx”, que, na época, era a grande subversão. Ao lado desse livro, anexaram outra documentação e atribuíram-na a mim”, contou. Marilda se casou e sofreu com o marido a perseguição da ditadura. Perderam oportunidades de emprego em diferentes lugares do país. Foi anistiada em 2006.

Ricardo Cintra
Cintra: “É sempre necessário denunciar todo abuso” 


“Tenho orgulho do meu passado. Posso conversar do meu passado com meus filhos com a maior tranquilidade e dizer tudo o que eu fiz. Duvido que os torturadores possam ter a mesma coragem.”

Cintra começou a graduação em História em 1967, quando foi escolhido para ser vice-presidente do movimento Ação Popular. Sua primeira prisão durou menos de uma semana, em Ibiúna (SP), durante Congresso da UNE. Mais tarde, quando já tinha se formado e dava aulas de história em colégios de Juiz de Fora, foi novamente preso na frente de seus alunos. A carceragem veio com interrogatórios e tortura com chutes e choques. “É sempre necessário denunciar todo abuso, todo autoritarismo para evitar que a gente volte a passar por isso.”

Carlos Alberto Pavam
Pavam foi aluno de Comunicação na UFJF e presidente do DCE em 1979. O estudante participou de atos contra o aumento do preço do ticket do Restaurante Universitário. Foi preso quando estava no carro do então senador Federal Itamar Franco em uma emboscada da Polícia Federal para capturá-lo. Ficou detido no presídio de Santa Terezinha em Juiz de Fora, onde foi ameaçado e interrogado pelos agentes da polícia. Durante sua curta prisão ele recebeu visita do próprio Itamar Franco que lhe deu apoio para a soltura.

Renê Gonçalves de Matos
Ex-reitor Renê de Matos foi acusado de liderar movimento contrário ao regime militar 


Renê de Matos começou no Movimento Estudantil logo após entrar na Faculdade de Farmácia da UFJF, em 1966, onde se tornou presidente do DA e, em seguida, do DCE. Foi preso durante congresso da União Estadual dos Estudantes, em Belo Horizonte. Nesse período de medo, conseguiu ser solto com a ajuda do governador Magalhães Pinto. Após se formar, foi acusado de liderar um movimento contra o Tradição, Família e Propriedade, grupo de direita ligado à Igreja Católica, o qual combatia o comunismo. Matos ficou preso por 24 dias, sendo 12 sem comunicação. O ex-aluno tornou-se professor da UFJF, diretor da Faculdade de Farmácia e reitor da UFJF, de 1994 a 1998. Em 2000, candidatou-se à Prefeitura de Juiz de Fora.

Luiz Antônio Sansão
Em 1970, Luiz Antônio foi detido pela primeira vez em Juiz de Fora e em dezembro de 1971, aos 21 anos, foi levado para o Doi-Codi em Belo Horizonte, onde foi interrogado e torturado. Na época, participava de uma organização estudantil de esquerda. Estudante de Ciências Sociais e vice-presidente do DCE na UFJF, Sansão ficou em prisão domiciliar em Linhares (ES). Mesmo após ser liberado, foi interrogado inúmeras vezes pelos agentes militares e teve sua casa inspecionada todo o dia. Em decorrência da prisão, ficou dois anos sem estudar e trabalhar.

Assista a relatos neste vídeo da Comissão da Verdade:

da assessoria UFJF