quinta-feira, 13 de outubro de 2016

JÁ EM SUA QUARTA TURMA, CURSO DE MEDICINA DA FEDERAL DE LAVRAS SEGUE SEM ESTRUTURA PRÓPRIA

Prédios essenciais como o Laboratório de Anatomia Humana ainda não ficaram prontos. Centro de convivência e prédios relacionados com as agrárias tiveram prioridade
Em uma realidade pouco conhecida por quem transita pelo campus, obras na UFLA estão atrasadas e tem até 'rodízio' de prioridades

Uma série de inaugurações marcou a semana de aniversário da Universidade Federal de Lavras (UFLA), no início de setembro.

Foram inaugurados vários prédios, a maioria deles ligados a cursos da área de ciências agrárias. Mas foi a cantina central, agora batizada de Centro de Convivência, que teve prioridade.

Por estar localizada na área mais movimentada do campus e embora tivesse parte de seu cronograma de execução atrasado, a obra do Centro de Convivência ganhou impulso para poder ser entregue durante as comemorações do aniversário da instituição e antes do fim do recesso letivo.

Com arquitetura, design e estrutura que se assemelha a um shopping center, a construção chama a atenção de quem circula pelo campus da universidade. 

Passando pelas avenidas da universidade, é possível ver também outras grandes obras sendo edificadas. Mas a dura realidade de uma crise que afeta os projetos da instituição é desconhecida da maioria das pessoas que circulam pelo campus.

Construções importantes para a estruturação de cursos de graduação seguem em ritmo lento e estão com a previsão de entrega atrasadas.

É o caso do Complexo da Saúde, localizado às margens da avenida Sul, próximo à portaria das Goiabas. Os prédios que estão sendo construídos no local vão abrigar a estrutura física do curso de medicina.

O curso teve início em março de 2015, já está em sua quarta turma e até agora não conta com laboratórios próprios, sede administrativa e nem um hospital para atuação dos estudantes.

Sem contar ainda com essa estrutura própria, como medidas paliativas, a universidade precisa levar, por exemplo, os futuros médicos para vivências nas estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), distante mais de 230km. 

Imagens do Laboratório de Anatomia Humana, setor essencial na estrutura do curso de medicina. Seguindo o ritmo atual, obra não fica pronta em menos de 6 meses
Um dos mais importantes espaços que um curso de medicina precisa ter é o Laboratório de Anatomia Humana. Este local, que os estudantes da UFLA ainda não possuem, é um ambiente para a realização de atividades teóricas e práticas voltadas ao estudo anatômico dos diferentes sistemas orgânicos do corpo humano. Nele, os acadêmicos da área da Saúde encontram cadáveres, peças humanas e diversos modelos anatômicos.

A obra do Laboratório de Anatomia Humana da UFLA segue no ritmo da crise que afeta as obras no campus da universidade.

A reportagem do Blog O Corvo-Veloz esteve no local e constatou que apesar da estrutura já ter sido erguida, a obra, principalmente a parte de acabamento, tem ritmo lento.

Para quem participa de um curso na área de saúde, em nível técnico ou superior, a disciplina de anatomia humana é uma ferramenta de fundamental importância, sendo considera como a ciência mãe dessa área. Os livros, softwares sofisticados e os moldes ajudam, mas o laboratório é crucial para os estudantes de medicina.

Com poucos funcionários trabalhando no local, a perspectiva mais pessimista é que o Laboratório de Anatomia Humana seja entregue em 6 meses, ocasião em que a UFLA já estará sua quinta turma de medicina.

O laboratório e suas complexidades
Além da construção do prédio, o processo para colocar em funcionamento o laboratório de anatomia é delicado, uma vez que toda prática acadêmica que envolve corpo humano segue uma legislação rigorosa. Outro problema é a complexidade para se conseguir cadáveres.

Um levantamento da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) mostrou que 8% das instituições pesquisadas usam apenas modelos.

O estudo ouviu 753 estudantes, de 83 universidades, localizadas em 22 estados, de julho de 2013 a julho de 2014. A pesquisa apontou também que, entre as universidades que utilizam cadáveres (92%), metade usa órgãos já dissecados devido à falta de corpos.

Na opinião de 80% dos estudantes, o uso de corpos e a dissecação facilitam a interpretação de exames de imagem, a realização de exames físicos e o exercício da clínica médica. Para 93% deles, a utilização de modelos pode complementar o estudo, mas não substitui a análise dos corpos.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA), há alguns anos as universidades brasileiras vem enfrentando dificuldades na obtenção de corpos para estudo. Um dos motivos seria o aumento considerável no número de faculdades, além progressiva diminuição de cadáveres não reclamados e a falta de informação das pessoas sobre a possibilidade da doação.

Os cadáveres chegam à universidade por duas vias. Primeiro, por meio do Instituto Médico Legal (IML), no caso de cadáveres não reclamados por familiares ou amigos. A Lei n.° 8.501, de 30 de novembro de 1992, garante que esses corpos podem ser utilizados para o ensino e pesquisa.

A outra alternativa é por meio de doação. Qualquer pessoa, com mais de 18 anos, pode determinar em vida que seu corpo seja entregue a uma instituição de ensino. Para isso, deve preencher uma declaração simples, reconhecida em cartório, e com o prévio contato feito com a instituição para a qual o corpo será encaminhado. Caso após a morte não houver documento que comprove a intenção, cabe à família tomar a decisão.

'Rodízio' nas obras e crise
Assim como o Laboratório de Anatomia Humana, está em construção no mesmo ritmo o Laboratório de Técnica Cirúrgica e a sede do Departamento de Ciências da Saúde (DSA).

Com área total de 4.770 m2, o prédio do DSA terá três pavimentos. Nele irão funcionar o setor administrativo, salas de estudo em grupo, salas de mentoria, salas de integração, auditório, laboratórios e o Centro de Simulação Realística.

Imagens do prédio principal que vai abrigar o Departamento de Ciências da Saúde

Orçado inicialmente em R$9.491,438,05, as obras do Complexo da Saúde tiveram início no dia 6 de abril de 2015 e tinha previsão de conclusão para o dia 27 de setembro deste ano.

Obra do Complexo da Saúde era para ser entregue no último dia 27 de setembro, mas vai se arrastar por meses ainda - clique na imagem para ampliar

Uma espécie de 'rodízio' de recursos e obras está sendo feita para tocar os empreendimentos no campus. Em uma das empreiteiras que possui várias obras no campus, por exemplo, a medida que a empresa recebe os pagamentos ela realiza um 'revezamento' da atuação dos trabalhadores nas obras.

Também existem obras na Universidade Federal de Lavras com apenas dois trabalhadores e algumas contando até com somente um funcionário para vigiar o local. E a situação tende a se agravar ainda mais. Nos próximos dias, uma empreiteira estuda dispensar cerca de 40 trabalhadores.

Idas e vindas
A implantação do curso de medicina na UFLA foi marcada por idas e vindas. No final da manhã do dia 12 de julho de 2013, o reitor professor José Roberto Soares Scolforo anunciou a criação do curso.

A implantação se deu dentro do programa 'Mais Médicos' do governo federal. Na época, o reitor anunciou que o curso de medicina teria início já no segundo semestre de 2014. Foi anunciado também que não haveria um hospital escola.

Meses depois, no dia 9 de dezembro de 2013, a direção da instituição realizou uma solenidade para anunciar a compra do antigo Hospital do Coração, que deveria ser transformado em uma unidade do Hospital Escola.

Com a compra, a estrutura do antigo hospital seria demolida, sendo erguido um prédio de 14 pavimentos. O prédio do antigo Hospital do Coração foi adquirido pela universidade por mais de R$3 milhões, dinheiro este que a instituição recebeu do governo federal por meio do 'Mais Médicos'.

De acordo com o reitor José Roberto Soares Scolforo, para a construção do Hospital Universitário no prédio do antigo Hospital do Coração, seria necessário um aporte de R$70 milhões, conforme reportagem publicada pelo Blog O Corvo-Veloz no dia 8 de abril de 2014.

A expectativa da Diretoria Executiva da UFLA naquela época era entregá-lo funcionando até o final de 2015.

Adiamento
Anunciado para ter início no segundo semestre letivo de 2014, o sonho do curso de medicina na Universidade Federal de Lavras foi adiado para 2015, sendo que dia 6 de março do ano passado teve a sua aula inaugural.

Com isso, marcou-se um novo momento na história de uma instituição que surgiu da dedicação as ciências agrárias e nos últimos anos vem diversificando sua atuação em outras áreas.

Frustração e novo projeto para o hospital
Enquanto os comerciantes se animaram, sendo que muitos já estavam investindo alto na aquisição de imóveis na região do antigo Hospital do Coração, que voltaria a viver um 'boom' imobiliário e de movimentação de pessoas com a construção do hospital escola, a direção da instituição pegou todos de surpresa.

O reitor José Roberto Scolforo concedeu entrevista coletiva à imprensa no dia 23 de abril de 2015, para anunciar a construção do hospital universitário na Zona Norte da cidade de Lavras, em área da Fazenda Muquém, de propriedade da universidade.

Sete hectares, da área total de 136 hectares da fazenda, serão destinados para a construção que terá 39 mil m2.

O hospital estará localizado no anel viário Presidente Tancredo Neves, próximo ao condomínio do projeto “Minha Casa, Minha Vida”. Ele terá três módulos, com capacidade final para 350 leitos.

Durante a coletiva de imprensa, o dirigente da UFLA anunciou que o primeiro módulo, de 13 mil m2, tinha previsão de ser licitado e ser a obra iniciada no primeiro semestre de 2016.

Ele disse, que naquela ocasião, o empreendimento estava na fase inicial de elaboração do projeto arquitetônico, realizado por uma empresa licitada no final de 2014.

Destacou também que projeto seria a base para a realização de 37 outros projetos específicos que são exigidos para a construção de um hospital de referência. O hospital que terá como atuação prioritária o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS),  será gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), braço do Ministério da Saúde.

Novas perspectivas para o antigo projeto
Sobre o destino da área do antigo Hospital do Coração, José Roberto Scolforo anunciou na mesma entrevista coletiva concedida à imprensa que estava sendo negociada a instalação de uma Escola Técnica Federal, para ampliar as oportunidades de formação qualificada em Lavras e região.

Durante meses, as edificações do antigo Hospital do Coração, já de propriedade da universidade, passaram a ser alvo de insegurança e transtornos para os moradores da região.

No local apareceu o "Maníaco da Calcinha", um rapaz que se exibia com roupas íntimas nas dependências do antigo hospital. Ele foi visto ali e naquela região por diversas vezes e chegou a ser filmado por uma moradora se exibindo em uma janela do hospital.

Além dele, moradores de rua passaram a se abrigar no local. Diante destes transtornos, a universidade acabou realizando a demolição total dos prédios.

Já no dia 24 de setembro de 2015, a UFLA anunciou que propôs ao Ministério da Educação (MEC) uma parceria com o Instituto Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS).

O resultado seria a criação de um campus avançado do IFSULDEMINAS em parceria com a instituição, com modelo inovador de integração.

Pela proposta, seriam ofertados cursos em diferentes modalidades: cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), cursos subsequentes (para egressos do Ensino Médio), cursos integrados e concomitantes (para estudantes do Ensino Médio), além de cursos de Formação Inicial Continuada (FIC), destinado a jovens e adultos a partir dos 16 anos de idade, favorecendo a qualificação e a requalificação de trabalhadores e professores da Educação Básica das escolas públicas da região.

Foi anunciado que dois cursos do Pronatec – Técnico em Mecânica e Técnico em Segurança do Trabalho – seriam ofertados ainda em 2015, no campus da universidade.

No dia 5 de outubro de 2015, foi formalizada a parceria histórica no gabinete do Ministério da Educação. Auxiliar de Farmácia de Manipulação e Operador de Caixa passaram a ser então os cursos previstos para serem ofertados por meio do Pronatec.

Os cursos integrados, ensino médio profissionalizante, foram anunciados para ter início em 2017. Os cursos subsequentes foram anunciado para iniciar antes, no segundo período letivo de 2016.

Hoje, a estrutura do antigo Hospital do Coração segue demolida, cercada por uma estrutura e a comunidade na expectativa de ali ser realmente implantado o projeto da escola técnica.

Atualização - 18/10/2016 - 18h08
A redação do Blog O Corvo-Veloz entrou em contato com a Diretoria de Comunicação (Dicom) e a Reitoria da Universidade Federal de Lavras na última sexta-feira, 14 (dia útil no Brasil), abrindo espaço para ouvir o posicionamento da instituição pública sobre a situação do Complexo da Medicina, das obras paralisadas e atrasadas, conforme reportagens publicadas nos dias 13 e 17.

A UFLA não emitiu nenhum posicionamento sobre o assunto.

7 comentários:

Anônimo disse...

Deus, guarde o povo brasileiro desses projetos educacionais, principalmente da PEC 241
Avé, Maria, cheia de graça
O senhor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus
Santa Maria, mãe de Deus
Rogai por nós, pecadores
Agora e na hora da nossa morte
Ámen

Anônimo disse...

Há sim desafios na implantação do curso de medicina da ufla, mas os estudantes e o mec consideram que ele vai muito bem!

Anônimo disse...

No alojamento estudantil-Brejao tem um elefante branco, chamado bloco III

Anônimo disse...

O galpão de avicultura no DZO está da mesma forma ou pior. Tem anos que estão paradas as obras, já foi usado até como depósito de carteiras antigas. Além disso o valor da obra daria para construir uns 3 galpões idênticos!

Anônimo disse...

Não existe um grupo de pessoas dentro de uma universidade que é diferente do restante da sociedade no entorno da universidade. Desta forma, é impossível ter dento da UFLA algo que seja totalmente diferente da sociedade brasileira. A ufla é exatamente o reflexo da sociedade brasileira. Imaginar que há dentro das universidades cidadãos superiores, isso não ocorre, a mão de obra que entra na UFLA é totalmente a sociedade brasileira e leva por toda carreira profissional o histórico de competências curriculares, grandes dificuldades em produzir textos e fazer cálculos. Sendo assim, o país do futebol, da PEC 241, dos agrotóxicos em excesso na agricultura, é desmascarado nos rankings em que o brasil ocupa as últimas posições em leitura, matemática e ciência, nos rankings como THE em que o Brasil não tem nenhuma universidade entre as 250 melhores do mundo. Vergonha um país com o 7º PIB, o 5º em produção industrial, com território de 8,5 milhões de Km2 e não ter nenhuma universidade entre as 50 melhores no mundo no THE. FORA TEMER FORA LULA FORA SERRA FORA ALCKIMIN FORA JOÃO DORIA FORA SILAS FORA CHEREM FORA CAP FORA CORINTHIANS

Anônimo disse...

ingenuidade achar que o MEC é uma instituição séria na administração da educação.

Anônimo disse...

Se somar o que foi pago pelo prédio do Hospital do Coração mais o que foi gasto para a demolição, dava pra construir tudo isso e mais alguma coisa. Um desperdício absurdo! Faltam planejamento e profissionalismo na gestão dos projetos.