segunda-feira, 26 de setembro de 2016

UNE TEM PRIMEIRA MULHER NEGRA COMO PRESIDENTE


A estudante de engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Moara Correia, assumiu o cargo temporariamente enquanto Carina Vitral cumpre compromissos eleitorais

Em razão dos compromissos eleitorais da presidenta da UNE, Carina Vitral, que é candidata à prefeita de Santos, no litoral de São Paulo, a entidade anuncia oficialmente o nome da sua vice, Moara Correia, para assumir a presidência temporária da União Nacional dos Estudantes.

O Estatuto da UNE, aprovado no 51º Congresso da UNE em 2009, prevê que é atribuição do vice-presidente auxiliar o presidente.

Para Moara, estar à frente da UNE neste momento é especial porque a juventude vem sendo protagonista em diversos espaços.
“Estou assumindo temporariamente, porque a nossa presidenta, a Carina, está como candidata. Não adianta a gente ir pra rua dizer que quer mulheres, negros e jovens na política e chegar na época da eleição votar só em homem branco e mais velho. São dois projetos que se juntaram, a popularização da universidade que permitiu que tivesse uma vice-presidenta mulher – a 1ª depois da redemocratização – e um processo da juventude ocupar mais lugares na política que faz com que a Carina saia para concorrer a uma prefeitura e eu possa ocupar esse lugar”.
Moara tem 26 anos e é estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal de Minas Gerais. 

Ela é a terceira mulher na linha de sucessão da entidade. Em 2015 a pernambucana Vic Barros passou a presidência para a paulista Carina Vitral que Moara substitui agora. 

Pela primeira vez, em 79 anos desde a sua fundação, a União Nacional dos Estudantes terá à frente uma mulher negra. 

Antes dela, outra mulher negra chegou à vice-presidência, a estudante de Letras da USP, Helenira Rezende, assumiu esse cargo em 1968. Helenira foi perseguida e assassinada pela ditadura militar.

Quem é Moara?
Filha de pais militantes da Juventude Operária Católica, nascida em Recife (PE) e criada em Contagem (MG), a porta de entrada na universidade para Moara foi como ProUnista na PUC-MG, no curso de Engenharia Civil. Sobre a escolha do curso, ela diz que achou na engenharia uma “forma concreta de ajudar as pessoas”.

Nessa época, o cotidiano dela era como a da maioria dos jovens brasileiros: trabalhava o dia todo em projeto social onde dava aulas de musicalização para crianças, de lá saia correndo para a aula a noite. “Eu estava sempre muito cansada e faltava tempo para a política”.

Foi pelas mãos do movimento de mulheres e de negros que Moara chegou ao movimento estudantil. Ela lembra que sempre participou do movimento social e que o ensino médio quando estudou no CEFET, onde ‘todo mundo participava de alguma coisa’ seja do esporte, do coral ou do grêmio, foi um momento muito importante na vida dela. 

“ Foi quando eu passei a me reconhecer mais, quando parei de alisar o cabelo, quando participava de várias atividades”.

Foi nessa época que ela ajudou a construir o 1º Fórum Nacional da Juventude Negra aos 17 anos e participava de um grupo de percussão chamado As Chicas da Silva.
“Eu sou de uma família negra, que sempre se reconheceu negra e sempre militou por isso”.

Movimento estudantil
Em 2011 uma amiga a convidou para participar do 4º Encontro de Mulheres Estudantes da UNE em Salvador. 

“Um espaço só de mulheres onde tudo era construído por consenso, foi totalmente diferente da ideia que eu tinha do movimento estudantil – sempre tive uma visão que o ME era muito burguês, muito branco – voltei de lá muito mais feminista”, conta.

O segundo espaço em que ela se encontrou dentro do movimento estudantil foi o Encontro de Negras e Negros da UNE, em 2012, também realizado em Salvador.

Mas foi a pluralidade de forças políticas e a convicção que cada um defendia suas ideias, durante o 14º Conselho Nacional de Entidades de Base, o Coneb, em 2013, no Recife, quando ela decidiu fazer parte da UNE.

“Eu nunca vou esquecer quando entramos no ginásio, o que vi foi um mar de jovens que acreditavam tanto na política que construíam, que defendiam suas opiniões com empolgação, tinha muita divergência, mas estavam todos construindo juntos o mesmo espaço, de uma forma muito irreverente. Pensei: cara, que legal, eu quero construir essa entidade”.

Seis meses depois ela já era Secretária geral da UEE de Minas Gerais e depois a UNE. Por meio do Enem, ela mudou para Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde é cotista do 7º período de Engenharia Civil.
“A minha família é muito fruto das políticas públicas dos últimos 10 anos de governos de esquerda. Eu acho que isso me mobiliza até mais a lutar com tudo isso que está acontecendo, meus dois irmãos também fazem engenharia na UFMG por cotas, minha mãe é cotista e bolsista do ProUni e meu pai é estudante do Fies em uma faculdade particular agora depois dos 50 anos” .
com Cristina Tada - da assessoria 

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